A qualidade de vida compreende um conceito abrangente em termos de domínios e que é subjetivo, dependendo de cada indivíduo. Assim, a sua objetivação é avaliada através de escalas de autopreenchimento, que nem sempre conseguem compreender toda a abrangência e dimensão de uma vivência pessoal e individual.
A afetação destas dimensões para além de ser variável de doente para doente, é também variável de acordo com a fase da vida do doente e ao longo da trajetória de doença. A palavra cancro logo por si tem um estigma social negativo a ela associado. Portanto, ser diagnosticado com “um cancro” vai trazer todos os pré-conceitos existentes relativos a essa nova condição. É um novo papel social que se instala, frequentemente impactando as relações sociais dos doentes.
O doente que passa por tratamentos dirigidos a doença oncológica sofre limitações na sua capacidade de desempenho profissional, com períodos de absentismo e redução de ganhos financeiros. Simultaneamente, este novo diagnóstico é frequentemente gerador de novos custos financeiros – medicação, deslocações.
Ainda, a doença e o seu tratamento têm impactos nos sintomas e sinais sentidos, alterações físicas no corpo, na imagem, nos papéis sociais e profissionais, na capacidade funcional e cognitiva, no funcionamento psíquico, na sua autonomia, etc. Como tal, é expectável que o diagnóstico de cancro impacte a qualidade de vida de um doente em todas as suas dimensões, bem como a qualidade de vida dos seus familiares e cuidadores.
Em que consiste o projeto PROSTATA_MOVE?
O projeto PROSTATA_MOVE iniciou-se como um projeto de investigação do ONCOMOVE, um programa da Associação de Investigação de Cuidados de Suporte em Oncologia (AICSO). Este projeto visava avaliar a sua exequibilidade e a qualidade de vida dos participantes. No final do projeto de investigação, a AICSO transitou o programa para um projeto comunitário.
O PROSTATA_MOVE consiste num programa de walking football (futebol em caminhada) para doentes com cancro da próstata. Trata-se de uma modalidade mais adaptada a esta faixa etária e a algumas limitações físicas que já encontramos nesta fase e às comorbilidades destes doentes. Neste momento, está implementado em Vila Nova de Gaia, contando com o apoio da Câmara Municipal de Gaia, em termos de cedência de espaço e de pagamento de honorários do treinador. O projeto tem atualmente 20 inscritos e contamos este ano conseguir abrir mais uma turma. O programa mantém a sua avaliação contínua nomeadamente em termos de adesão, de segurança e de aspetos físicos (força, capacidade física e funcional).
Quais são as vantagens deste programa para os aderentes?
Este programa permite que os seus participantes se mantenham fisicamente ativos, combatendo o sedentarismo. Permite ainda que estes homens criem e mantenham relações sociais combatendo isolamento social. A maior adesão está também relacionada com aumento dos ganhos alcançados nomeadamente em termos de capacidade funcional.
Qual é a importância da implementação e desenvolvimento de programas centrados na melhoria da qualidade de vida dos doentes oncológicos?
Perante a identificação de domínios afetados da qualidade de vida, é nossa responsabilidade a tentativa de minorar esses mesmos efeitos. Essas abordagens podem ser dirigidas ao controlo sintomático, mas também a melhoria de condições de vida desses doentes.
Muitos destes programas pretendem atuar devolvendo interação social e melhoria de sintomas psicológicos, bem como salvaguardar o bem-estar físico destes doentes. Os programas de exercício físico para além de permitirem a socialização visam melhorar a capacidade cardiorrespiratória, a funcionalidade física e minorar alguns efeitos dos tratamentos como o cansaço, a neuropatia a perda muscular e óssea e combater o sedentarismo desta população.